Tudo começou em julho de 2017, quando o MV Aman foi retido no porto egípcio de Adabiya. O motivo? Os documentos de seu equipamento de segurança e seus certificados de classificação haviam expirado.
Inicialmente, não seria algo difícil de resolver, mas os operadores libaneses do navio não pagaram pelo combustível e seus proprietários, do Bahrein, estavam passando por dificuldades financeiras.
Com o capitão egípcio do navio em terra, um tribunal local declarou Aisha, o oficial chefe do navio, o guardião legal do MV Aman.
Aisha, que nasceu no porto sírio mediterrâneo de Tartus, diz que não recebeu explicações sobre a determinação judicial e só entendeu as implicações meses depois, quando os outros tripulantes começaram a deixar o navio.
Por quatro anos, Aisha viu a vida e os navios passarem, entrando e saindo do vizinho Canal de Suez.
Em agosto de 2019, com exceção da passagem ocasional de um guarda, ele estava sozinho, preso em um navio sem combustível e, consequentemente, sem energia.
Mohammed Aisha estava legalmente obrigado a permanecer a bordo e não tinha qualquer remuneração, se sentia desmoralizado e cada vez pior.
Por mais surpreendente que seja a história, sua experiência não é única. Na verdade, o abandono de navios está aumentando.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, há mais de 250 casos ativos em todo o mundo em que as tripulações, por diferentes razões, são simplesmente deixadas à própria sorte. A entidade afirma que 85 novos casos foram registrados em 2020, o dobro do ano anterior.
Mohamed Arrachedi, da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transporte (ITF, na sigla em inglês), que assumiu o caso de Aisha em dezembro, argumenta que este deve ser um momento para todos na indústria naval refletirem.
“O caso de Aisha tem que servir para abrir um debate sério para prevenir esses abusos aos marítimos em navios”, diz.
O debate, acrescenta, deve envolver armadores, autoridades portuárias e marítimas e os países que concedem licenças e fiscalizam as embarcações.
Fonte: BBC